quinta-feira, 23 de julho de 2009

ESPERANDO O QUÊ?

ESPERANDO O QUÊ?

As motivações que regem nossas relações interpessoais são, realmente, muito complexas, a tal ponto que controlam nossas vidas à revelia das reais necessidades de nosso desenvolvimento.

Uma situação bastante comum, e que esvazia desnecessariamente nossas energias psíquicas, é ficarmos esperando respostas afetivas e físicas das pessoas, enquanto deixamos de realizar a parte que nos cabe para a solução de nossos problemas. Fixamo-nos em um comportamento imaturo, na expectativa de sermos protegidos, sem assumir as responsabilidades que a vida nos cobra.

Em linhas gerais, podemos dizer que a causa desse sintoma reside em um estado regressivo da personalidade que, por motivos neuróticos, permanece fixada em uma época passada de sua vida infantil onde deixou alguma forma de conflito por resolver. Então, apesar da idade cronológica já avançada, continua a ter um comportamento irresponsável, solicitando proteção dos que a rodeiam, quase sempre daqueles com quem teve seus conflitos estabelecidos ou de outros para os quais transferem suas carências.

É assim que vemos pessoas estagnadas, passivas diante de seus desafios emocionais e sociais, irritadiças quando não atendidas em suas solicitações de proteção, desperdiçando uma enorme quantidade de energia psíquica que deveria estar sendo utilizada para o intento em questão.

É importante analisar que esse estado psicológico envolve uma situação paradoxal. Por um lado, precisamos viver em grupos, nos ajudando mutuamente na construção da realidade que nos sustenta; por outro, também precisamos assumir nossa autonomia psíquica, garantindo a estabilidade e a estruturação da individualidade que nos proporcionem seguir à frente em nosso processo evolutivo.

Na verdade, ninguém vai entrar no “reino dos céus” carregando outros pelas mãos, ou seja, ninguém vai conquistar a desejada felicidade e paz de espírito permanecendo sustentado pela ação de terceiros. O processo, apesar de acontecer em um ambiente coletivo de interação recíproca, é pessoal e intransferível, solicitando vivências e aprendizagens autênticas.

Dessa forma, quantos ficam desperdiçando seu precioso tempo reclamando de parentes e amigos que não lhes atendem às exigências, sem valorizar o exercício que a vida propõe para o seu desenvolvimento pessoal. É um mecanismo de defesa, chamado de projeção, motivado por bloqueios psíquicos que impedem a pessoa de agir em uma determinada direção. Como admitir sua incapacidade momentânea é extremamente doloroso, a individualidade prefere proteger-se do sofrimento emocional projetando a sua responsabilidade sobre os outros. E o agravante é que quanto mais a pessoa investe neste comportamento, mais se enfraquece, porque existe uma leitura simbólica inconsciente do fato que vai demonstrando sua incapacidade de reação. Entretanto, quanto mais experiências de conquista a personalidade vivencie, mesmo que com as derrotas inevitáveis, mais se fortalece para os novos embates. Aliás, como acontece com o próprio corpo físico: quanto mais se exercita mais forte o corpo fica; quanto mais sedentário, mais se enfraquece.

Uma tomada de consciência diante de tal situação será fundamental para a reversão do quadro patológico. Muitas vezes ele pode vir a atingir um grau de tamanha complexidade que exige intervenção de uma psicoterapia adequada, com o intuito de voltar a garantir ao ser humano sua qualidade de vida e capacidade de realização.

Contudo, não podemos deixar de alargar nossas reflexões para demonstrar que essa postura individual se estende também para o coletivo, deixando povos inteiros à mercê de situações indesejadas contra as quais não conseguem realizar um movimento contrário. As insatisfações quanto ao contexto de nossas vidas parecem notórias, mas preferimos permanecer fazendo críticas improdutivas contra os poderes públicos, sem nos mobilizarmos na concretização das soluções esperadas. Parece sempre mais fácil acusar o outro pela falência dos nossos ideais, quando lutar por eles é uma tarefa para a qual não encontramos motivação. As grandes mudanças institucionais dificilmente acontecem por decisões das hierarquias superiores, acomodadas nas vantagens a que se acostumaram, mas por mobilizações das suas partes componentes. Basta verificar a história.

Façamos, pois, a parte que nos cabe, a nível individual e coletivo, para que as mudanças que se fazem necessárias possam construir uma realidade de vida mais estável e feliz. Somente assim assumiremos a responsabilidade pela edificação de nossos destinos, trabalhando por isso e garantindo que eles se façam de acordo com nossos reais interesses de evolução e amadurecimento.

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