segunda-feira, 27 de julho de 2009

DESPERTAR OU VOLTAR A DORMIR?

Numa dessas noites em que as horas parecem se multiplicar e o sono vagar perdido pelo quarto querendo escapar pelo silêncio da madrugada, ocorre o mais perigoso dos assaltos: o dos pensamentos céticos.
Contei minha idade e projetei minha expectativa de vida. Cheguei a óbvia conclusão de que terei menos tempo para viver o futuro do que já vivi o passado.
Engraçado como antes o tempo não importava. Nem o que ele sorrateiramente surrupiava. Era como chegar a uma festa e logo ao entrar, perceber que havia vinho de sobra e que a festa estava só começando. Valia a pena conversar com todos os convidados. A música tocava.
Hoje já não tenho paciência para lidar com papos, pessoas e fatos medíocres, odeio gente que se acha o último brigadeiro da festinha de criança. Não suporto egos malhados, sarados, botoxizados .
Reuniões que se movimentam em círculos viciosos e de onde nenhuma conclusão verdadeira é retirada me impacientam. Invejosos de plantão, com seus olhares dizendo claramente o que não conseguem sequer balbuciar me dão nojo.
Perto deles, sinto que tentam me desnudar, vestir minha roupa, saquear minha casa, riscar o meu carro, azedar meu bom humor, baixar meu tesão. Não vou dar a eles meu talento, o mapa da vida que eu fiz, minha sorte, meu esforço em me manter de pé.
Na minha conta de anos, já não me sobra tempo e paciência para projetos mega-blaster-multi-super-importantes , como despoluir o mundo, salvar as geleiras, proteger prostitutas e travestis de espancamentos, lutar pela cura do câncer, da AIDS, conscientizar políticos da sua real importância na busca pelo social e não por castelos individuais, ganhar na mega sena, conhecer todas as cidades do mundo que quis conhecer, pedir perdão a todos que magoei, amar quem não me amou e por aí vai.
Não, não e não adianta insistir que eu repito esse não em todos os idiomas do planeta. Os projetos mega eu deixo para os próximos da fila. Em reuniões de condomínio, serei apenas o cínico espectador de um circo de insanos, discutindo e não resolvendo eternamente os mesmos problemas. Amigos, convenhamos, o ser humano basicamente não presta, vamos desistir, relaxar de vez .
O meu tempo, daqui pra frente, não me permite administrar beicinhos, carinhas feias, patologias psicossociais e imaturidades. Já bastam as minhas - essas eu mesmo resolvo e não incomodo vocês.
Não quero olhar para o relógio e ver o tempo escorrendo entre os dedos enquanto assisto pessoas se confrontando como pavões exibindo suas caudas, pavoneando sua coragem de tirar tudo a limpo e depois...o que depois mesmo?
Chega de testemunhar beijinhos no coração e facadas pelas costas, chega de pedir ao papai-do-céu, porque vai que o lugar lá ta vago e as mensagens não estão chegando. Vamos colocar a mão na massa – a nossa massa cinzenta e tomar as rédeas das nossas atitudes e decisões. Deixa paínho na dele.
Meu tempo é curto. É um perfume que foi lavanda, concentrou-se em colônia e os anos apuraram em extrato. Hoje busco minha essência. Tenho pressa.
Nas poucas festas a que ainda me convidam, vejo que o vinho é escasso, já não vale a pena conversar com todos os convidados. A música toca baixo e já se confunde com o silêncio. Elegantemente, melhor sair à francesa.
E procurar nas frestas da rotina de cada dia as sobras de gente humana. Gente que ainda sabe rir sem bem saber bem do quê e por quê. Pessoas que não se deslumbram com fama, sucesso, dinheiro. Gente que tropeça, sente a dor, ri do tombo, levanta e vai. Gente que reza e pede a Deus, mas que no fundo às vezes tem medo de que tudo não passe de uma farsa.
Gente que não se acha. Gente que se encontra em não se achar. Pessoas que sabem que vão morrer um dia, mas que adoram e querem viver – como eu!
Quero caminhar por aí. Perto do que me faz bem, seja coisa ou pessoa. Desfrutar do amor sem trapaças, viver o essencial.
Escrever pode ser uma catarse. Ou pode ser desabafo pseudo-intelectual. Ou desespero solitário. Alguém aí disse diarréia cerebral?
Mas numa madrugada insone, quieta e de pensamentos céticos, escrever é um dom milagroso mais à mão que um antidepressivo caro.
O sono volta de seu passeio pelo quarto e convida – deita-te a meu lado e terás o paraíso, um clic sem efeitos colaterais.
Autor desconhecido

Nenhum comentário:

Postar um comentário